O Primeiríssimo Mercado

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Ponto 1 do Percurso Estruturas
Ponto 20 do Roteiro Geral

Pescado, azeite de baleia, hortaliças, grãos, melado, farinhas, carne verde.... tudo isso e muito mais era comercializado no Largo da Matriz, atual Praça XV, geralmente em barraquinhas de escravos ou ex-escravos, chamadas de quitandeiras e quitandeiros. Também haviam os pombeiros que revendiam produtos pelas ruas. Era um comércio intenso porque a ilha tinha um Porto de muito vai e vem de mercadorias. Mas a Câmara Municipal queria “aformosear” o Largo e organizar a confusão das barraquinhas, especialmente quando o ilustre D.Pedro II veio visitar Desterro em 1845.

Legenda: Desembarque do Imperador Dom Pedro II e a Imperatriz Dona Tereza Cristina na Ilha de Santa Catarina, no dia 12 de outubro de 1845

Assim o primeiríssimo Mercado foi construído no alinhamento da Rua do Príncipe (atual Conselheiro Mafra) com a parte debaixo do Largo da Matriz (atual Praça XV), como podemos ver na imagem abaixo.

Legenda: Localização do primeiro Mercado Público, em frente ao Largo da Matriz

O prédio possuía 34m de frente para a praça e 21m de lateral, com 24 janelas em forma de semicírculos e quatro grandes portas em cada lado. Por dentro, a construção se dividia em casinhas, bancas para venda de carne, pátio central com um poço e os lugares de quitandeiras, que eram os vãos que ficavam entre as colunas.

No ano de 1872, a freguesia Nossa Senhora do Desterro, nome do atual Centro Histórico, possuía 8608 habitantes. A população total de Desterro era composta por 22769 indivíduos livres e 2940 escravos distribuídos entre as freguesias de Nossa Senhora do Desterro, Nossa Senhora das Necessidades de Santo Antônio, Nossa Senhora da Lapa do Ribeirão, São João Batista do Rio Vermelho, Santíssima Trindade Detrás do Morro e Nossa Senhora da Conceição da Lagoa.

O entorno do Mercado acabou se tornando, mesmo a contragosto das autoridades, um local de forte apelo popular onde os afrodescendentes, lavradores, libertos e escravos lutavam pela sua sobrevivência, cultural e econômica, como as quitandeiras, ambulantes e pombeiros. Era ali que faziam suas vidas.

Legenda: comércio no primeiro Mercado Público.

Os vãos do Mercado era o local das quitandeiras, divididos em dois. Pagava-se 1$2000 réis mensais pelo aluguel. Segundo o regulamento do mercado, as casinhas só podiam ser alugadas por pessoas livres e os vãos pelos escravos com a licença escrita de seus senhores. Pombeiras e pombeiros que também tinham que pagar impostos. Algumas mulheres que fizeram suas vidas aqui foram Ana da Costa Pereira, Luiza Cabinda, Anna Mina, Zeferida Calabá, Josefa Caçange, Esperança Cabinda, Thomazia Cabral, Maria do Sacramento, entre muitas outras quitandeiras e pombeiras, geralmente pretas libertas ou escravas.

Mas a estrutura do Mercado passou a ser considerada inadequado para o comércio, especialmente das carnes verdes e dos peixes frescos que tinham que ter cuidados sanitários.

Legenda: local onde viria a ser construído o novo Mercado Público, antes de 1898.

Em 5 de fevereiro de 1899 um novo Mercado Público foi inaugurado, aquele que até hoje podemos circular. Em março o velho já estava demolido. Naquelas alturas, Desterro já se chamava Florianópolis. Em 1931 um pequeno aterro foi feito para a construção da segunda ala do novo Mercado. Na década de 1950, ainda eram avistadas barcos chegando dos mais variados bairros. Na década de 1970, com os aterros e a nova Ponte Colombo Salles, as mercadorias passaram a chegar sob quatro rodas. O mar já não fazia parte da vida do Mercado, que passou a se caracterizar cada vez mais como ponto turístico do que como o principal ponto de intercâmbio comercial de toda a ilha.

Legenda: Funcionamento do novo mercado público
Legenda: Mercado Público num dos primeiros cartões postais da cidade editado em 1904.
Legenda: comércio marítimo e de peixes na primeira Ala do novo Mercado Público, começo século XX.
Legenda: mercado público por volta da década de 1930.
Legenda: Mercado Público por volta da década de 1960.

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Se você está seguindo as pistas do Roteiro Geral, estamos quase no final! Para descobrir o próximo ponto:

Volte onde começamos, nas imediações do Terminal de Ônibus Antigo, onde não há nenhuma edificação, apenas canteiros, um bicicletário e calçadas para pedestre. Procure no pilarde concreto da Estrutura do Terminal que se encontra ao lado do bicicletário pintado na cor verde, o último ponto do roteiro geral.

Se você está seguindo as pistas do Percurso Estruturas, estamos só começando! Para descobrir o próximo ponto:

Procure uma caixa de Luz localizada na calçada da Praça XV, ao lado da Revistaria da Praça, posicionada em frente à saída da Rua Felipe Schimitd.


Este texto foi elaborado com base nas seguintes pesquisas:

Modernidade Capitalista em Florianópolis-SC e a Dinâmica do Centro Urbano, dissertação de Geografia por Renata Pozzo. Veja no link.

Senhoras de incerta condição: proprietárias de escravos em Desterro na segunda metade do século XIX, dissertação de História por Daniela Fernanda Sbravati. Veja no link.

A Busca de Espaços para o Comércio de Gêneros Alimentícios em Desterro, Galpões, quiosques e o novo Mercado Público Municipal, trabalho de conclusão de curso de História por Cássila Cavaler Pessoa de Mello. Veja no link.

Africanos e descendentes na história do primeiro mercado público de Desterro, por Fabiane Popinigis, publicado em História Diversa, Africanos e Afrodescendentes na Ilha de Santa Catarina, organizado por Beatriz Mamigonian e Joseane Vidal. Ilha de Santa Catarina, livro iconográfico por Gilberto Gerlach publicado em 2015, Tomo I e II