Os Comedores de Farinha

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Ponto 6 do Percurso Acontecimentos
Ponto 18 do Roteiro Geral

Farinha d’água, carimã ou pubá, tapioca, tucupi, beiju, cauim, tiquira, raspa, pellets, forragens, rosca ou coruja, paçoca, cuscuz, polvilho… tudo isso e muito mais pode ser obtido através da planta "Manihot" esculenta, mais conhecida por nós como mandioca. Em vários locais da ilha se cultivava essa planta, pois a farinha dela foi um dos principais, senão o principal, item de abastecimento e exportação da ilha, através do comércio portuário do litoral.

Legenda: Pintura óleo sob tela do viajante holandês Albert Eckhout em visita ao Brasil por volta século XVII.

A lenda dos índios tupi conta que nasceu uma indiazinha tão branca, que nem parecia da tribo. Ela se chamava Mani. Muito pequena ainda, ela morreu sem apresentar sintomas. Foi enterrada dentro da sua própria oca e os pais regavam sua cova todos os dias, representando as lágrimas de saudade. De repente, nasceu uma planta, que foi ficando grande sob uma terra fendida. Os índios cavaram e encontraram raízes grossas e morenas, que escondiam uma polpa branquinha. Era a Mani, mas oca. Por isso, chamaram a planta de Manioca.

A manioca, cultivada pelos indígenas tupi-guarani, conquistou os europeus. Enquanto os indígenas utilizavam a farinha fermentada e amarelada, eles preferiram a branca fina sem fermentação. Em Santa Catarina, o cultivo de mandioca para a produção de farinha fez do estado um dos maiores produtores até a década de 60 do século XX. Na ilha, existiram cerca de 350 engenhos de farinha.

Legenda: local de produção de farinha em engenho do nordeste pelo pintor holandês e viajante Frans Post

Os açorianos quando vieram para cá, por volta de 1750, sabiam mais sobre o trigo, cultivo europeu comum. Adequaram-se ao clima e cultura local, aprendendo a cultivar mandioca e produzir farinha em engenhos alocados nas mais diversas freguesias da ilha que, em sua maioria, contavam com trabalho dos escravos. A forma de transporte das mercadorias era geralmente por carros de boi.

A cultura da mandioca acabou resultando em vários hábitos alimentares do homem e da mulher litorâneo, conhecido como comedor de farinha. Alguns preparos da cultura alimentar da cidade: caldo de camarão; café coado misturado à farinha em forma de mingau, preferentemente mole, para ser bebido na xícara; pirão com leado de cana; caldo do cozido; pirão assustado, entre outros.

Legenda: Bijajaca, foto de divulgação da Arca do Gosto, movimento Slow Food Brasil

Que tal algumas receitinhas? Pubá: A raiz de mandioca é curtida em água por alguns dias. Quando está em forma de massa pode ser utilizada para fazer diversos pratos. Os indígenas faziam na forma de um pão que podia ser armazenado por um longo período, quando enterrado. Chamava-se pão da terra. Beiju: Na massa crua da mandioca logo que sai da prensa, adiciona-se sal, açúcar, cravo, canela e anis, e leva-se ao forno do engenho até que fique torrada. Rosca de Polvilho ou Coruja: Em 3kg de polvilho se adiciona erva doce, cravo, canela, gengibre e gordura, mexendo com água fervente até parecer um pirão escaldado. Adiciona-se 3 ovos e meio litro de leite. A massa é feita em forma de rosca, colocada sob folha de bananeira que vai ao forno bem quente. Bijajaca: É um bolo cozido no vapor de massa de mandioca crua, amendoim, açúcar e aromatizado com cravo canela e erva doce. A preparação tem origem indígena, mas o prato é resultado da influência açoriana.


Próxima parada

Caso você tenha chegado aqui agora e quer continuar descobrindo histórias da cidade, você pode escolher fazer o Roteiro Geral ou o Percurso Estruturas, indicados. Para conhecer mais sobre o projeto, clique aqui.

Se você está seguindo as pistas do Roteiro Geral, imaginemos os barcos e navios no horizonte. Para descobrir o próximo ponto:

Continue no Largo da Alfândega, mas volte em direção à Praça Fernando Machado, de onde começamos. Quase acabando o Largo, em frente ao prédio da Caixa Econômica Federal e ao lado do Posto de Polícia, procure em uma outra estrutura de concreto como um banco retangular o próximo ponto do roteiro geral.

Se você está seguindo as pistas do Percurso Acontecimentos, os traumas também fazem parte. Para descobrir o próximo ponto:

Volte para as imediações do Terminal de Ônibus Urbano Antigo. Na estrutura do terminal, ao lado do bicicletário que é pintado na cor verde, procure o último ponto do percurso acontecimentos.


Este texto foi elaborado com base nas seguintes pesquisas:

Escravidão nos Engenhos de farinha da Lagoa da Conceição, por Ana Carla Bastos, , publicado no livro História Diversa, Africanos e Afrodescendentes na Ilha de Santa Catarina, organizado por Beatriz Mamigonian e Joseane Vidal.

Os Engenhos e Farinha de Mandioca da Ilha de Santa Catarina, livro de Nereu Do Vale Pereira, publicado em 1993

A Lenda da Mandioca (lenda dos índios Tupi), adaptação de Maria Thereza Cunha de Giacomo na Coleção "Lendas brasileiras", de 1977.

Engenho sim, de açúcar não o engenho de farinha de Frans Post, artigo publicado em Varia Historia, por Mariza de Carvalho Soares. Veja no link.

Arca do Gosto, com receitas históricas de Santa Catarina pelo Movimento Slow Food Brasil. Veja no link.