Os Artesãos

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Ponto 4 do Percurso Vidas
Ponto 8 do Roteiro Geral

Anos 1970. Sentados no chão, os viajantes ou “estranhos” como Mexicano, Lilian, Célia, Anselmo, Marilda, Décio, Rogério, Jair e Júlio, expunham e criavam suas artes em torno da Figueira, experimentando outros modos de se viver. Buscavam a liberdade, o prazer e a contraposição ao sistema político vigente no país, que era a Ditadura Militar.

Legenda: Artesãos na Praça XV na segunda metade da década de 70: Décio (a), Júlio (b), Marilda e filho (c), Jair (d) e Dení (e).1

Foram considerados pela imprensa local, os primeiros “hippies” da cidade. O artesanato possibilitava trabalho e deslocamento, fazendo de Floripa uma cidade perfeita, além de natureza, tinha hospital, universidade e rodoviária.

Rogério Sebastião Firmino foi reconhecido pela memória dos artesãos como um dos primeiros a chegar na Praça. Ele foi menino de rua, engraxate na Praça XV, até se encontrar com os artesãos e aprender o ofício. Logo, na Figueira, uma feira de artesanato se formou.

Legenda: Artesãos na praça, numa matéria que os colocava como “gente da ilha”, que estavam contribuindo com os avanços da cidade, publicado no jornal O Estado de 13 de abril de 1975

Numa época que a música não era tão acessível quanto hoje, o grupo levava instrumentos, cantava e dançava. Parte da população ia na praça conversar e socializar com os artesãos, além de comprar as artes de crochê, bambu, sementes… as “coisas legais” que estavam na moda da juventude.

Legenda: O grupo Novos Bárbaros passou por Florianópolis nos anos de 1970, um dos ícones da Tropicália

Contracultura foi um movimento que nasceu nos Estados Unidos nos anos de 1960. No Brasil, esse movimento se espalhou nos anos 1970, ao invés de se oporem apenas ao estilo de vida conservador, se opunham ao sistema político vigente, que era Ditadura.

A partir de 1974, a feira acabou sendo promovida pela Prefeitura, que recebeu os artesãos para o aniversário da cidade. A expressão “feira hippie” se tornou usual, divulgada especialmente pelos jornais e criando certos estereótipos que reduziam a amplitude do conceito de hippie para aquele contexto. “Ser hippie” envolvia muitos elementos, um deles era o trabalho autônomo e talvez nem todos os artesãos da feira da Praça fossem adeptos as ideias do movimento hippie de fato.

Dizia o Jornal O Estado em 28 de março de 1971: “Hippies estão surgindo em Florianópolis O movimento hippie, tão entrosado no dia a dia das grandes cidades, começa a aparecer em Florianópolis. O jardim Oliveira Belo está sendo o local preferido pelos adeptos dêsse movimento, que lá estão fazendo o seu ponto de encontro. Os hippies de Florianópolis pretendem organizar uma feira de artesanato, que seriam montadas todos os domingos num dos pontos centrais da cidade. Essa promoção é feita em vários pontos do país, alcançando grande êxito, notadamente em São Paulo. O aparecimento dos hippies em Florianópolis poderá fazer com que volte a ter grande movimento o jardim da Praça XV”.

Legenda: São Paulo tinha a Feira Hippie da Praça da República, foto tirada por Francisco Almeida Lopes nos anos de 1970, imagem encontrada na web

Mesmo convidados a fazerem parte do aniversário da cidade, eram convidados a se retirar da praça pelas autoridades e aposentados que lá circulavam. Muitas vezes os “hippies” da praça eram associados às drogas e a vagabundagem em função dos estereótipos e preconceitos em relação ao seu estilo de vida, simplesmente diferente da maioria. A liberdade que tanto buscavam acaba estando controlada...

Legenda: Charge do jornal O Estado de 24 de maio de 1974, sobre os artesãos embaixo da Figueira

A partir de 1977, a Prefeitura encaminhou a feira para perto do Coreto da praça, tirando-a dos arredores da Figueira e logo ela foi para a Praça Fernando Machado, onde já não havia mais o Trapiche. A polêmica da feira continuou até os anos 1990, que foi de um lado para o outro.

Um pouco sobre Florianópolis nos anos 1960…. “Oitenta mil habitantes. Tempo de Política. Jânio vem aí. Bossa Nova. BR-59 (Quase pronta). Celso para governador. Doutel para vice. Desenvolvimento. [...] Discussões políticas e filosóficas no Bar do Agapito. [...] Jânio na Presidência. 600.000 votos. Sai pra lá. Sessão das 3/45. O Homem entra em Órbita. A terra é azul. [...] I Festival do Cinema Novo Brasileiro. [...] Universidade. Encontro dos brotinhos. Românticos de Cuba. Fidel Castro. [...] Satélites Artificiais. Hi-fi. Plaza. Twist. Metais em Brasa. Cristal Lanches. [...] Qual é o babado? Daufhine e Gordine. Volks. Kennedy (John). O Clã dos Kennedys. O Clã de Sinatra. Corrida Espacial. Brasil Bi-Campeão. Marilyn Morre. O Pagador de Promessas. Jânio Renuncia. Jango Presidente. As Reformas. Os Cafajestes. [...] Namoros, quase noivados. Términos. Novos Namoros. I want to hold your Hand. Os Beatles. O Homem no Espaço Cósmico. Kennedy assassinado em Dallas. Bond, James Bond. Bombas pairam no Ar. Porque de repente cidades inteiras podem desaparecer vivemos em estado de crueldade. Rodrigo de Haro. Deus e o Diabo na Terra do Sol. Glauber Rocha. [...] Jango deposto. Novo Governo. Castelo Branco. Bolão no Tiro Alemão. O Fino da Bossa. Elis Regina e Jair Rodrigues. Opinião. Nara Leão e Zé Keti. Calça Lee. [...] Ivo Silveira versus Antônio Carlos Konder Reis. Eu sou o Bom. Oito e Meio. Constelação. Passeatas. Vic´s. Royal Palace Hotel. Ivo Governador. Disparada. A Banda. Chico Buarque de Holanda. Festival da Record. Mini, midi, maxi, Micro. Mary Quant. [...] Dinâmica. Beatniks. Posters. Revolução Sexual (lá fora). Velocidade (lá fora). [...] Costa e Silva. Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band. Mais do que nunca é preciso cantar. [...] Alegria, Alegria. [...] 30 [...] Tropicália. Caetano, Gil e Gal. Chacrinha. Repetidoras de TVs. TV Coligadas. O Homem na Lua. Mundo Planetário. Aldeia Global. Hippies. Woodstock. Quem será o novo governador? [...] Chiquinho fechando as portas. Paz e Amor. Entramos em 70, bichos”. Raul de Caldas, Desterro na década de 60 (Tempos mais próximos mora?) publicado no jornal O Estado em 1973

Legenda: Posters Psicodélicos de shows, artistas estadunidenses da década de 1960, que inspiraram a Tropicália brasileira, publicados na RollingStone de comemoração de julho de 2007
Legenda: Posters Psicodélicos de shows, artistas estadunidenses da década de 1960, que inspiraram a Tropicália brasileira, publicados na RollingStone de comemoração de julho de 2007
Legenda: A Contracultura nas ruas de Londres, no final da década de 1960, cidade onde muitos artistas brasileiros do movimento Tropicália ficaram exilados em função da Ditadura Militar

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Se você está seguindo as pistas do Roteiro Geral, ouça os batuques de outros tempos. Para descobrir o próximo ponto:

Entre dentro da Praça, aproveitando para imaginar os “hippies” dos anos 1970. Siga dentro da praça em direção à Igreja da Matriz e vá ao calçadão de frente à Igreja. Procure ali no calçadão, no poste que se localiza alinhada à Rua Padre Miguelinho, o próximo ponto do roteiro geral.

Se você está seguindo as pistas do Percurso Vidas, ouça a flauta encantada de uma celebridade. Para descobrir o próximo ponto:

Continue descendo pela calçada da Praça XV ao lado da Rua dos Ilhéus e entre na Rua João Pinto. No número 30, logo no começo da rua, à direita, em frente à lanchonetes e lojas comerciais, procure num poste o próximo ponto do percurso vidas.


Este texto foi elaborado com base nas seguintes pesquisas:

Entre Panos e Artesanatos: Contracultura se expondo na Praça XV de novembro, trabalho de conclusão do curso de História, por Márcia Regina Valério. Veja no link.