Augusto

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Ponto 1 do Percurso Vidas
Ponto 20 do Roteiro Geral

O porto de Desterro era de extrema importância para a vida da cidade e especialmente foi importante para a vida de Augusto, que aqui fez sua pequena fortuna.

Legenda: Vista da cidade de Desterro em 1824 pelo viajante Charles Landseer

O porto ocupou lugares diferentes ao longo da história urbana da ilha, espalhado pelo litoral, mas enquanto Augusto era marinheiro se encontrava nos arredores da Antiga Alfândega, localizada aqui, nesta esquina onde hoje é o Prédio da Caixa Econômica Federal. Mas Augusto morreu muito antes, em 25 de junho de 1861, quando tinha por volta de 25 anos. Ele morava na Rua da Palma com outros homens pretos: os escravos Roque, Gregório, Francisco e João e o liberto Joaquim, que contou que achava que Augusto era preto Mina, da região da costa ocidental africana.

Legenda: Ruas da cidade de Desterro em 1824 pelo viajante Charles Landseer

Augusto nasceu na África, mas foi apreendido pelas autoridades locais em 1850, quando era muito novo, sendo importado ilegalmente, aportando na Província de Alagoas. A legislação do Estado Brasileiro não considerou ele escravo e sim um “africano livre” pela sua condição ilegal, pois o tráfico negreiro desse tipo era proibido desde 1831, mesmo a contragosto.

Legenda: Representação do interior de um navio negreiro no comércio brasileiro de escravos em 1835, por Johann Mortiz Rugendas

Assim, Augusto foi encaminhado para a tutela de um cidadão privado, o tenente-coronel Manuel José Espíndola, que seria responsável por ele por um tempo e que acabou o trazendo do nordeste do país para a ilha de Santa Catarina.

Legenda: Vista de Desterro e seu Porto em 1875 por Oscar Constatt

Augusto trabalhava no Porto, empregado por Maximiano José de Magalhães Souza, num barco de transporte de mercadorias do Mediterrâneo. Segundo o patrão, ele era um rapaz econômico, guardava dinheiro sempre que podia, até para “comprar cigarros pedia dinheiro emprestado”. Era muito esforçado nos trabalhos, “homem de confiança” e provavelmente fazia diversos bicos. Seus únicos pertences deixados para trás, no pequeno espaço que tinha na casa de seu tutor, era um baú com: um par de sapatos, três pares de calças pretas, um paletó de pano da mesma cor, uma jaqueta branca, um par de calças de brim branco, duas camisas da mesma cor, três pares de calças velhas, uma gravata de cetim preto, um chapéu de palha de chiles, dois chapéus de pêlo preto, um barrete de algodão colorido e um chapéu de molas.

Legenda: Moedas de ouro, prata e bronze de diferentes datas do século XIX, durante o segundo reinado D. Pedro II, estampando seu busto

Mas Augusto deixou algo a mais, pois tinha inesperadamente muito dinheiro guardado num móvel do seu quarto. Mancio da Costa, o subdelegado de policia, encontrou no banquinho com uma gaveta trancada 3 moedas de ouro, 33 de prata e duzentas notas de papel-moeda, somando 438&000 réis, o que poderia comprar uma casa ou um terço de um escravo que tivesse a idade de Augusto. Só que Augusto não deixou herdeiros e não teve a oportunidade de aproveitar sua pequena fortuna. O esforço do trabalho livre que quase parecia escravo acabou indo, depois de sua morte, para os cofres públicos. O caso estava encerrado, e o marinheiro Augusto se perdeu na memória da escravidão até então.

Em 1866 a antiga Alfândega sofreu uma explosão inesperada. Uma nova Alfândega foi construída oito anos depois no prédio que vemos hoje no Largo da Alfândega, tombado pelo patrimônio histórico. Aqui nesta esquina se ergueu um sobrado comercial e posteriormente o Hotel La Porta, implodido na década de 1970.

Legenda: Antigo Hotel La Porta construído onde se localizava a primeira Alfândega, implodido nos anos de 1970
Legenda: Prédio Novo da Alfândega em 1900

Próxima parada

Caso você tenha chegado aqui agora e quer continuar descobrindo histórias da cidade, você pode escolher fazer o Roteiro Geral ou o Percurso Estruturas, indicados. Para conhecer mais sobre o projeto, clique aqui.

Se você está seguindo as pistas do Roteiro Geral, já que o porto era importante, deveria haver um espaço comercial importante... Para descobrir o próximo ponto:

De onde você está, atravesse a rua até a Praça Fernando Machado. Passe a estátua deste personagem e encontre o Banheiro Público pintado na cor verde. Do outro lado do banheiro, procure numa caixa de luz grafitada o próximo ponto do roteiro geral.

Se você está seguindo as pistas do Percurso Vidas, para vender os produtos do Porto de Desterro, era preciso uma boa quitanda e um irmão de fé. Para descobrir o próximo ponto:

Vamos ao pé da Escadaria do Rosário. Você pode ir até o Largo da Alfândega, em direção ao Mercado Público, para ver o novo velho prédio da Alfândega e então entrar na Rua Trajano, ao lado da Casa do Povo. Na Rua Trajano, siga reto toda vida até chegar numa escadaria que dará na Igreja Nossa Senhora do Rosário. Antes de ousar subir as escadas, procure na caixa de luz e nos muros grafitados ao pé da escadaria o próximo ponto do percurso vidas.


Este texto foi elaborado com base nas seguintes pesquisas:

Este texto foi elaborado com base nas seguintes pesquisas: No Baú do Augusto Mina: o micro e o global na história do trabalho, artigo por Henrique Espada Lima, publicado na Revista Topoi. Veja no link.

Florianópolis, Memória Urbana, livro por Eliane Veras da Veiga, publicado em 199

Ilha de Santa Catarina, séculos XVIII e XIX - Artistas viajantes e o estranhamento da paisagem, por Sandra Makowiecky. Veja no link.

Ilha de Santa Catarina, livro iconográfico por Gilberto Gerlach publicado em 2015, Tomo I e II

The Sea Journey, artigo publicado no site oficial do Iziko - Museums of Africa. Veja no link.

Moedas do século XIX são achadas por pesquisadores da Biblioteca Nacional, reportagem por Simone Candida. Veja no link.